terça-feira, 18 de março de 2014

QUER INOVAR NA GESTÃO DE PROJETOS? ENTENDA E VALORIZE AS PESSOAS

Três cenários que se apresentam no atual ambiente de negócios produzem impactos importantes na gestão de projetos: o cenário social vivido pelas organizações que levam em conta negócios globais, diferentes culturas, regulamentações socioambientais locais e mundiais; o  cenário econômico, ambiente que hoje inclui as crises europeias (instabilidade econômica e desemprego – principalmente na Grécia, Egito, Portugal e Espanha e, mais recentemente o conflito entre a Rússia e Ucrânia), força das economias emergentes, a inovação como ponto focal para alavancar a competitividade de empresas e nações, entre outros. Por fim, o cenário comportamental, onde se destaca a mudança drástica na maneira como os relacionamentos estão se processando, não importando se estes são pessoa-pessoa, pessoa-empresa, pessoa-coisas ou até coisas-coisas (veja artigo “Internet das Coisas” acessando aqui). Enfim, após a popularização das redes sociais, estamos inseridos num ambiente de intensa colaboração onde a co-criação ganha mais e mais relevância, passando a utilizar o processo criativo e inovativo de toda a cadeia de valor das empresas (colaboradores, clientes, parceiros, comunidade etc.). Em outras palavras, exercitando a inovação aberta (open innovation).

            Em décadas passadas, “trabalho em equipe” era uma habilidade fundamental para a avaliação de desempenho dos profissionais. Hoje, a tecnologia proporcionou uma revolução no modo de ser, viver, agir e até de pensar. Vive-se uma época de intensa colaboração. Para as empresas o chamado “trabalho em equipe” já faz parte do DNA dos profissionais que vivenciam o mundo da colaboração, muitos deles pertencentes às gerações Y e Z.

É sabido que ferramentas e um ambiente propício para apoio aos processos de negócio em todos os sentidos, as empresas os tem. Então, por que ainda se observam desempenhos excepcionais, medianos e pífios em determinadas empresas, setores, departamentos e mesmo na gestão de um projeto qualquer?

Existem diversas justificativas para isso, mas, inegavelmente os resultados dependem da atitude das Pessoas. Não apenas de pessoas competentes, mas sim de pessoas felizes no que fazem. Para isso, é necessário colocar pessoas certas nos lugares certos. O que queremos é discutir exatamente este ponto. Partimos do pressuposto que de pessoas felizes são pessoas motivadas, que sabem liderar e ser lideradas, portanto têm mais condições de ser inovadoras e acima de tudo conseguem, literalmente, engajar-se, qualquer que seja sua função dentro da empresa ou numa equipe de gestão de um projeto.

A gestão de projetos e seus atores

Em virtude de todo esse conjunto de mudanças, alguns fatores críticos ou exigências para o sucesso se destacam: a agilidade, a capacidade de adaptação, o poder de inovar de forma rápida e eficiente e o potencial de aprimoramento contínuo sob grandes restrições de recursos. Em resposta a essas exigências, fortalecem-se os sistemas de gerenciamento de projetos, como forma de gerir os empreendimentos temporários, únicos e multifuncionais, que caracterizam o processo de implementação de estratégias, inovação, adaptação e aprimoramento.

As ações de implementação da estratégia sempre podem ser traduzidas em projetos e administradas como tal, com prazo, escopo, produtos e qualidade definidos. Segundo o Project Management Institute – PMI®, “Projeto é um empreendimento temporário realizado de forma progressiva para criar um produto ou serviço único.” Por serem temporários, os projetos têm, obrigatoriamente, início e término definidos, diferenciando-se de operações contínuas. Essa característica não indica, necessariamente, que sejam curtos ou longos, mas apenas que são iniciados, evoluem e, por fim, são finalizados.

Podemos observar que, desde a captação de oportunidades (concorrência, mercado, novas tecnologias, posicionamento e objetivos), a realização da ação (que leva em consideração a situação prevista e atual, as metas e os resultados), análise da viabilidade do projeto e sua efetiva implantação, as pessoas têm papel primordial e cabe ao gerente de projetos sua coordenação, gerência e liderança.

Projeto de forma geral significa um empreendimento com condições preestabelecidas de realização especialmente quanto à qualidade, custos e prazo, ou seja, a princípio parece tudo muito fácil: basta decompor todo o projeto em fases (iniciação, planejamento, execução, controle e encerramento), determinar as entregas, seguir uma metodologia de gestão de projetos (p. ex. PMBOK) e pronto, agora é só correr para o abraço!

Simples, não? Não.

Porque em qualquer fase do projeto entra um componente-chave: o ser humano.  As pessoas vão constituir o time que, efetivamente, realizará o projeto e este deverá contar com um ator fundamental: o gerente de projetos.  Planejar e executar um projeto representa um empreendimento  humano e, como tal, será conduzido por gente. Será necessário saber administrar e lidar com seus sentimentos, desejos, expectativas, conhecimentos e conflitos que influenciam, e muito, a realização das tarefas e metas de um projeto. Em outras palavras, procura-se muito formar um time de “pessoas competentes”, mas, na verdade, além de “pessoas competentes”, o time também deve possuir pessoas realizadas e felizes no que fazem e, para tanto, é extremamente importante, repito, ter pessoas certas nos lugares certos.

Definir o escopo do projeto, determinar prazos e controlar os custos são algumas das muitas atividades do projeto, porém não há nada mais complexo no escopo de um projeto que gerenciar e tratar as expectativas de todos os envolvidos na sua execução, especialmente, do time do projeto. O gerenciamento do projeto deve estar em equilíbrio vital com o lado humano de todos os envolvidos. O sucesso ou fracasso de um projeto está diretamente ligado a sua capacidade de unir esses dois fatores. Sendo mais enfático, certamente, um dos grandes desafios na gerência de um projeto é gerenciar as pessoas envolvidas.
De acordo com Hunter como citado no seu livro “O monge e o executivo”: “Não se gerencia pessoas, se gerencia coisas, e lidera pessoas”. O gerente de projetos além da técnica que deve conhecer para se planejar, medir, coordenar etc. é, na verdade, um grande gerenciador de expectativas em consonância com o dito popular “ouvir é melhor que falar”. Seu papel será similar ao do maestro de uma orquestra. Podemos lhe ensinar a teoria da música e a tocar um instrumento musical. Mas quem possui a habilidade para juntar tantos músicos diferentes e fazê-los tocar a música em harmonia? Quem os leva a tocar em uníssono? Quem é capaz de proporcionar essa habilidade ao grupo? Agindo assim ele atuará como um verdadeiro líder, procurando atender da melhor maneira possível todas as expectativas das pessoas envolvidas no projeto visando encerrar o projeto com sucesso.

Organizações são formadas por pessoas, seres humanos que pensam, agem, ficam tristes ou felizes, necessitam de motivação, gostam de ser ouvidas e reconhecidas. Pessoas que, através de sua criatividade, sensibilidade e conhecimento inovam processos, atitudes e relacionamentos. Pessoas que mudam o mundo, sistemas políticos, econômicos, sociais e ambientais. Enfim, são as pessoas os atores fundamentais para o sucesso na implementação de qualquer projeto.

Agora pense: Como está sua empresa hoje? Quais são seus grandes dilemas? Como as pessoas que fazem parte dela ou se relacionam de alguma forma com ela podem ajudar a resolvê-los?

Fica a nossa dica: Quer inovar na gestão de projetos? Então, entenda e valorize as pessoas.


            Um abraço e até a próxima.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Uma conversa sobre Inovação

Toda empresa, grande ou pequena, parece desesperada para desvendar os segredos da inovação — sobretudo da inovação a custo acessível e sem assumir riscos desmedidos. 

Um grande mito precisa ser quebrado: de que para inovar a empresa precisa ter “professores pardais” ou gênios criativos. Não é bem assim. 

Quando pensamos em empresas inovadoras vem sempre à mente nomes como Apple, 3M, Google entre outras. A inovação não depende do segmento em que a empresa está inserida. Como exemplos podemos citar a Natura, maior fabricante brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, e líder no setor de venda direta no Brasil. 

A empresa foi a primeira brasileira a aparecer no ranking das 100 empresas mais inovadoras do mundo (2011), ocupando a 10ª posição, de acordo com a lista anual divulgada pela versão norte-americana da revista Forbes (www.forbes.com/innovative-companies/list/). A Embrapa hoje é uma referência em inovações no campo do agronegócio, assim como algumas concessionárias de energia elétrica que apostam em energias “limpas” e ferramentas para detecção de falhas em cabos, por exemplo. Também podemos citar pequenas empresas e startups (pequenas empresas de cunho tecnológico) que, consistentemente, vem lançando produtos inovadores. No ranking publicado pela Comissão Europeia das 2000 empresas que mais investiram em inovação no mundo, o Brasil figura com apenas oito empresas, sendo que, entre as primeiras 100 empresas, temos a Vale (em 98ª posição). A explicação para isso não é tão simples. Engloba um conjunto de fatores, circunstâncias e conceitos sobre o que é inovar. Vamos lá...

A inovação pontual pode fazer com que a empresa avance também pontualmente. A inovação
tem que ser pensada como uma gestão da inovação, isto implica que a empresa monte e mantenha rigorosamente uma “carteira de inovação”. Isto é, administrando a inovação por toda a organização, em vez de depender de iniciativas aleatórias e isoladas fará com que a empresa avance sistematicamente. Mas uma coisa é certa: não é apenas o volume de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) que é importante, ou seja, não adianta gastar muito se o gasto for pouco eficaz.

Afinal o que distingue as empresas mais inovadoras das demais empresas? Em primeiro plano está a sua habilidade de valorizar as pessoas (capital humano) retendo seus talentos. São empresas que cultivam relacionamentos internos e externos (inovação aberta), exploram 
valores como marca e autoconhecimento, possuem uma cultura e ambiente propícios à geração e aceitação de ideias (brainstorming, tempo livre para pensar, remuneração por boas ideias etc.), que direcionam seus investimentos e a execução de sua estratégia. Combinadas, estas características se complementam e se reforçam, gerando uma clara diferenciação das demais empresas. Em outras palavras, o que faz com que as empresas sejam inovadoras não é o “quanto” elas gastam, mas sim “como” elas gastam.

Reforçando o estudo da Comissão Europeia sobre investimentos das empresas em inovação, um outro estudo global, o “Innovation 1000”, sobre empresas inovadoras, realizado em 2012 pela consultoria Booz & Company, revela uma situação não muito animadora. Apesar de o Brasil ocupar hoje o posto de 7ª economia do planeta, estamos em 17º lugar na relação de países com empresas que mais investem em P&D. Nesse estudo, entre as mil listadas, apenas cinco empresas são brasileiras e a Petrobrás, atualmente na 119ª colocação, subiu apenas uma posição, passando para 118ª. Esta subida no ranking se deveu ao ciclo de investimento necessário à P&D de toda a cadeia de valor do pré-sal.

Um exercício interessante é voltar alguns anos atrás nos dados deste estudo da Booz & Company e verificar quantas empresas brasileiras constavam desta lista. O dado é chocante: em 2005, apenas três empresas brasileiras apareciam entre as mil principais, e a Petrobras já estava lá. E, nestes sete anos, somente duas novas empresas brasileiras entraram no ranking! O Brasil tem se destacado mundialmente em inovações no agronegócio, no setor de petróleo, na indústria de cosméticos entre outros. Isso se deve à qualidade e disponibilidade de insumos, de seus recursos naturais e ao talento de muitos profissionais envolvidos nessas e outras áreas.  O investimento em P&D é uma condição necessária à inovação, mas não suficiente, embora com certeza exerça papel fundamental para que empresas brasileiras 
possam competir, nas mesmas condições, com empresas globais.

O baixo investimento em P&D no Brasil explica-se por varias questões conjunturais como baixo nível e a dificuldade de acesso à educação, excesso de burocracia e mecanismos de incentivos complexos Outros aspectos - não menos importantes – são o arcabouço legal para proteção de propriedade intelectual no país, carga tributária elevada e, acima de tudo, a visão míope da maioria dos empresários, sempre almejando resultados de curto prazo sem pensar na geração de valor a longo prazo.

Colocados de lado os aspectos referentes às questões governamentais relativas ao incentivo
à inovação, salientamos que as empresas podem e devem investir na sua orientação à inovação. O acompanhamento de perto da gestão de empresas, há mais de 20 anos, nos permite inferir que é possível sim implantar um crescimento sustentável através da inovação sistêmica. O primeiro ponto é ter a pessoa certa no lugar certo. Pessoas mais comprometidas, motivadas, alinhadas aos objetivos do negócio geram maior produtividade. O segundo ponto é o alinhamento estratégico. Projetos de inovação precisam ser focados na estratégia da empresa, respeitar sua cultura, valores, conhecimento, capacidade de investimento e ter as tecnologias aplicadas e a tecnologia da informação aderente aos processos operacionais e de negócios. Terceiro e último ponto: é preciso haver um claro incentivo ao intra empreendedorismo e a uma cultura corporativa que apoie e estimule a inovação. Em tempo: o alinhamento estratégico deve considerar a inserção da organização nas quatro ondas tecnológicas – as Redes Sociais, Big Data, Mobilidade e Nuvem.

Estas novas tecnologias permitirão, ainda mais, a coleta de dados que se transformarão em informações que, devidamente analisadas produzirão conhecimentos. Estes, por sua vez, 
dependendo da forma como serão utilizados, irão construir a inteligência organizacional. A inteligência tem papel crescente no apoio à tomada de decisões estratégicas e na reestruturação de atividades técnico/operacionais mais eficientes. Ressaltamos que, em qualquer das etapas (dados, informação e conhecimento), o papel das PESSOAS é fundamental na geração do conhecimento. Afinal, as pessoas são o motor de inteligência.

Por mais complexo que possa parecer, é possível criar as condições por meio de métodos, processos, sistemas, metas, etc., para que empresas sejam mais inovadoras. O caminho é árduo e exige mais transpiração do que inspiração.